segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O que resta da oposição


O que resta da oposição no Brasil? Para muitos, resta pouca coisa. Sem encontrar um caminho alternativo para o país que tenha apelo popular enquanto antítese do projeto liderado pelo PT desde Lula, os partidos da oposição parecem ir se inviabilizando com o tempo.

Como apresentar um projeto crível e popular de oposição a outro que foi responsável por fazer o país, de maneira talvez inédita na historia da Republica, aliar crescimento econômico estável a contenção da inflação,  valorização da renda do trabalhador médio, geração massiva de empregos, combate exitoso da pobreza absoluta e fortalecimento das instituições democráticas? Como se opor a um projeto que tirou nada menos que 30 milhões de pessoas da pobreza absoluta na ultima década sem levar o país a nenhum tipo de caos político, social ou econômico?

Essa não é uma tarefa fácil. Não é fácil se opor a uma opção política que contemplou, e continua contemplando, a pauta histórica de avanço do processo civilizatório do país, impossível de ser realizado com uma população antes crescentemente imersa em níveis bárbaros de pobreza e falta de acesso aos direitos sociais mais elementares. Realmente, não é tarefa fácil apresentar algo viável que se contraponha a isso. E essa dificuldade de contraponto só mostra quanto o processo liderado pelo PT foi e continua sendo necessário ao país.

É nesse quadro que a oposição vem tentando encontrar um espaço sem, no entanto, conseguir sucesso. Diante da impossibilidade de atacar de frente o projeto socioeconômico bem sucedido do PT, partem para o discurso da moralidade. O discurso da oposição passou a ser o combate à corrupção. Esse discurso, que coincidentemente (será?) se tornou o tema numero um da grande mídia privada, como se fora o grande único problema sociopolítico a ser enfrentado pelo Brasil nas próximas décadas, vem reduzindo o papel dos oposicionistas a uma espécie de auxiliar nas investigações contra membros do governo.  

Isso é o que resta da oposição no Brasil: um conjunto de poucos partidos com um discurso cada vez mais estreito e sem projeto de país, ou sem condições políticas de tornar claro seu projeto mais liberal de centro-direita, escorados numa grande mídia privada que insiste em colocar-se como “neutra”, apresentando sua posição como sendo a posição da “opinião publica”, fato desmentido a cada novo sucesso eleitoral das forças que compõem o governo. Uma grande mídia que recusa o modelo de centro esquerda liderado pelo PT e defende a volta de um mais acentuado liberalismo de mercado, embora não abra o jogo claramente em relação a esse projeto e use o tema da corrupção como cortina de fumaça.

O oligopólio que constitui a mídia privada nacional, alias, vem se convertendo num verdadeiro lócus de tematização e produção do que ainda resta de discurso para os oposicionistas no país, sempre apoiado numa ideia incompleta de “liberdade de expressão” (na verdade, a liberdade de utilizar concessões públicas, no caso da TV e Radio,  para defender interesses políticos e econômicos nada coletivos).

E nas urnas? PS(D)B?

Acaba de ser divulgada outra pesquisa de intenção de voto para a presidência da republica. Entre os 65% de brasileiros que afirma já ter preferência por nomes para 2014, nada mais nada menos que 70% declararam  preferencia por Lula ou Dilma, do PT . A oposição vem la atrás, com singelo desempenho de  medalhões quase superados, como Serra ,  Alckmin e Aécio, a eterna promessa. Some-se a isso a emergência de novos quadros do PT, como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, eleito de forma expressiva sobre o PSDB na principal capital do país, o que pode o credenciar, caso faça um bom governo, a ser um futuro presidenciável. O quadro pede acirramento da disputa por parte da oposição (partidos e mídia).

E esse acirramento se mostra através de duas linhas de ação adotadas atualmente pela grande mídia (cabeça e coração da oposição): avançar o discurso de “caça aos corruptos” na direção de lideranças expressivas do projeto hegemônico, especialmente Lula, minando aos poucos sua popularidade e a de Dilma, e viabilizar a criação de um novo líder para o país, capaz de ameaçar ou tencionar a liderança petista nos rumos da economia brasileira.

Nesse contexto, resta à oposição, além da cruzada da moralidade contra Lula e outros, se quiser ser competitiva, fabricar uma liderança que não construa seu discurso a partir da negação do projeto vitorioso liderado pelo PT, mesmo que trabalhe para relativiza-lo quando eleito. Que se manifeste ao mesmo tempo simpático e critico ao modelo petista. Que se apresente à população como alguém que pode assegurar razoável continuidade desse projeto imprimindo-lhe “nova” coordenação política, mais próxima aos atuais valores administrativos disseminados pelos meios de comunicação da mídia privada: ética, para combater a corrupção; e gestão eficiente que volte a priorizar a classe media, atacando os modernos problemas evidenciados nas grandes cidades.

A única liderança que pode se apresentar dessa forma para a população do país hoje é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ele é a bola da vez para setores da oposição, embora não seja a opção numero um para o PSDB. A mídia já o coteja como grande figura política. Já há reportagens de meios como o “Estado de São Paulo” elogiando sua eficiência como gestor, seus números, sua capacidade (alias, elogiar os números incontestáveis do governo federal é ser chapa branca, mas rasgar elogios a governador de estado não é?). Até agora, Eduardo e a oposição apenas ensaiam um namoro, mas daqui a 2 anos podem trocar alianças.

A questão é saber ate que ponto o PSB irá se pautar pela busca puramente pragmática de poder, colocando conscientemente em risco o projeto vitorioso em curso das forças da centro esquerda do país. O PSB terá que explicar que candidatura é essa, a que interesses políticos ela responde, como ela supera enquanto alternativa politica a importância do projeto liderado pelo PT e ate onde se afasta dos grupos políticos que tentam se afirmar como antagonistas do projeto petista, projeto, alias,  que o PSB abraçou e sob as bênçãos do qual, diga-se de passagem, cresceu e se popularizou.

Cabe saber qual a posição do PSB enquanto força política de centro esquerda importante do país, pois a depender do nível de compromisso ideológico do excelentíssimo senhor governador de Pernambuco, as respostas a essas questões estão já a meio caminho.

Seja qual for a opção da oposição para a próxima eleição, sua força eleitoral hoje não amedronta, e parece que ela deverá passar mais 6 anos apenas tentando, de alguma forma, viabilizar um caminho que nos leve de volta à servidão.